Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra

Gênero Revisitado

 Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra de Gore Verbinski busca resgatar o gosto do público pelas clássicas histórias de pirataria, como as protagonizadas pelo lendário Errol Flynn.

por Bruno Cal

 Alardeada aos quatro ventos como a primeira produção dos Estúdios Disney a não receber o selo da censura livre (no Brasil, é vedada aos menores de 14 anos; nos EUA, aos de 13 anos), Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra (Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl, EUA, 2003), bebe explicitamente da fonte dos já clássicos filmes de pirataria hollywoodianos de já longa memória, como as protagonizadas por Errol Flynn, numa busca - até então muitíssimo bem sucedida, por sinal (se considerarmos a arrecadação nestas primeiras semanas de exibição) - de resgatar entre o grande público o tão esquecido gênero.

 À frente, na direção, temos o já conhecido e igualmente competente Gore Verbinski, diretor, dentre outros, do interessante Um Ratinho Encrenqueiro e de O Chamado (remake de um filme japonês chamado Ringu, de 1998). O criativo diretor confere competência à condução de Piratas do Caribe, um filme que, se se vale dos filmes de pirataria outrora consagrados como inspiração e referencia, não busca ir além nos propósitos dos mesmos. Talvez aí resida não somente o seu ponto mais forte, como também o seu calcanhar de Aquiles, seja para melhor, seja para pior.

 Afinal, se é impecável na reconstituição da aura de aventura dos idolatrados filmes de capa-e-espada e de bucaneiros arruaceiros, carece de maior ambição ao se restringir a somente isto. Falta-lhe a ousadia de um diretor como Tim Burton (leia-se os dois primeiros filmes da série Batman e o remake de O Planeta dos Macacos e de A Fantástica Fábrica de Chocolate) como releitor de gêneros e obras já consagradas, habituado a surpreender um público que crê pisar em terra firme em matéria de coisas que julga conhecer de antemão. Mas, apesar disso, a escolha de Verbinski não deixa de ser acertada - e feliz! -, visto que ousadia em excesso poderia terminar por descaracterizar mortalmente a obra e convertê-la, ao final, em um estrondoso fracasso, tanto de crítica, quanto de público.

 Mas, sem dúvida, o maior trunfo do filme é o excelente Johnny Depp. Como em todo filme que participa, é ele que, mais uma vez, rouba a cena (sem trocadilhos!). Seu talento ofusca (ainda que só um pouco) a participação do igualmente ótimo Geoffrey Rush. Sua caracterização do furtivo e fanfarrão capitão Jack Sparrow é não somente inteligente, como divertidíssima! A belíssima Keira Knightley desempenha competentemente o papel de Elizabeth Swann, protagonizando muitos dos momentos mais bem humorados do filme. Apenas Orlando Bloom parece não ter escapado ao "ranço" do seu elfo Legolas, da trilogia O Senhor dos Anéis, mas não a ponto de comprometer a obra.

 Piratas do Caribe conta a estória do condenado navio pirata "Pérola Negra". Por haver cobiçado e se apoderado de um tesouro asteca amaldiçoado, os bucaneiros comandados pelo cruel capitão Barbossa (Geoffrey Rush) foram condenados a amargar uma interminável não-vida como decrépitos mortos vivos. Somente restituindo todo o tesouro - até a última moeda - é que eles poderão retornar a uma existência normal. O único problema é que eles necessitam tanto da última peca de ouro do tão cobiçado tesouro, quanto do sacrifício do herdeiro de outro valoroso pirata, o ferreiro Will Turner (Orlando Bloom) para reverter a maldição.

 O acontecimento adquire contornos inesperados quando, ao invadir a colonial Fort Royal e resgatar o precioso item, os piratas de Barbossa seqüestram, por engano, a filha do governador local, Elizabeth Swann, julgando-a se tratar daquele que devem sacrificar para quebrar a maldição. O apaixonado (e obstinado) Turner decide, muito a contragosto, unir forças a Jack Sparrow, antigo capitão deposto do "Pérola Negra" numa desesperada tentativa de resgatar Elizabeth e por fim aos violentos ataques de Barbossa e sua tripulação.

 Novos ventos sopram a favor da pirataria no cinema. Nunca os idolatrados corsários foram tão atemporais, mas nunca estiveram tão contemporâneos. O irrefutável sucesso de Piratas do Caribe somente nos permite enxergar um vasto horizonte às produções do gênero. A bilheteria americana de US$ 260 milhões não foi, de qualquer modo, dinheiro demais aos olhos da Disney, que já se empenha na realização de uma continuação à estória. Acertos com boa parte do elenco original já foram feitos, assim como com o próprio Verbinski e seu roteirista. Resta ver se a nova iniciativa definitivamente fundará o resgate de uma tradição de maravilhosas lembranças.

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